O desejo de todos

O desejo de todos
* Cezar Miola
Ao ser questionada pela mãe sobre o que mais deseja nesses 40 dias de isolamento, Luísa, uma estudante do 5º ano do ensino fundamental, responde: voltar à escola. E essa resposta não é só dela, é de Joãos, Marias e de tantas outras crianças e jovens espalhados pelo mundo. O colégio simboliza um espaço de descobertas, de construção do saber, de convívio com as diferenças e de acolhimento. A impossibilidade de frequentar esses locais traz angústias e preocupações, não só pelo impacto negativo no aprendizado, mas também porque pode comprometer o desenvolvimento das competências socioemocionais. Além disso, para muitos a escola é um lugar seguro, um abrigo que reduz a exposição a ambientes tóxicos e violentos, na mais triste das realidades.

De acordo a Unesco, há 1,3 bilhão de crianças e jovens fora da escola no mundo por causa da pandemia. É inegável que haverá perdas em razão das medidas de proteção à vida durante o isolamento, mas o desafio, como em qualquer crise, está em reduzir os danos. Se as redes estão buscando oferecer atividades remotas, é preciso apoiar as ações, com a participação dos pais e o envolvimento dos professores. Se não estão a fazê-lo, os gestores devem buscar soluções para mitigar os danos. Não é possível oferecer ensino por meio da internet, já que ela não está presente em muitos lares brasileiros? Nesse caso, é preciso ser criativo, mesmo que o ideal esteja distante.

Assim, existe a possibilidade, por exemplo, de se ajustar parcerias e oferecer atividades de ensino por meio de canais de TV (em especial os públicos, que têm nas ações educativas muito da sua razão de existir) e de rádio (a destacada radiodifusão brasileira cobre todo o território do país).

Iniciativas como essas não serão suficientes para evitar que as disparidades socioeconômicas se ampliem. Mas, mesmo não substituindo a exigência do mínimo de horas-aula, ajudarão na transmissão de conteúdos e a preservar os vínculos, prevenindo a evasão. O certo é que precisamos encontrar saídas, ainda que não totalmente satisfatórias, para minimizar os impactos durante esse período. Pelo menos até que Luísas, Joãos e Marias possam voltar a esse ambiente transformador e capaz de oferecer oportunidades, principalmente para aqueles que têm tão poucas. São reflexões para este Dia da Educação.

*Conselheiro do TCE-RS e Presidente do Comitê Técnico da Educação do Instituto Rui Barbosa.